Devaneio
Hoje a tarde eu sonhei contigo, enquanto dormia de olhos abertos. Imaginei você fechando a porta de casa, com o olhar de quem acaba de chegar. Não havia emoção dos encontros mas o sentimento familiar de outro dia, um novo domingo, todo desprovido de qualquer relógio.Eu acordava de um cochilo preguiçoso, daqueles que vem sem avisar, largado no sofá da sala, com o controle da televisão na mão, rosto franzido contra o sol da varanda e o mau humor habitual do despertar inesperado. Quando te vi nem liguei pra dor no meu pescoço, observei por um ou dois segundos e se o tempo pudesse parar pra sempre, ali eu pararia também.
Sua boca movia-se lentamente, como se quisesse quebrar o silêncio de uma doce surpresa, esboçando um movimento singelo, tentando manter os lábios presos um ao outro. Voltei-me em sua direção, ansioso pelo que faria e enquanto dava-me conta da sua beleza, pensei no quão bom seria se todos os dias amanhecessem assim.
Esperei por uma palavra, mas você apenas sorriu, preencheu-me com uma alegria sutil, sem alardes, sem excessos, sem rodeios e quando me coloquei a sorrir de volta vi que não estava ali.
Desejei então a sorte de te-la falante num próximo sonho, só pela chance de ouvir sua voz outra vez e nessa saudade imensa que nunca passa, permaneci risonho e distraido, fantasiando possíveis sinais, o velho tolo esperançoso.
Desconheço o autor